"Não me lembro de como começara. Talvez no início do outono. Ele já não era como o garoto que eu me apaixonara dois anos antes. Não era tão rude e nem tão recluso. Ou então, era algo em mim, algo o atraia. Talvez minha propensão a ser diferente das outras meninas. Toda minha maturidade envelhecedora e torturante, unida bravamente a minha masculinidade que deixei mais evidente por ele.
Lembro-me
bem das conversas. De como interagíamos, de como apagávamos ao mundo ao nosso
em volto ao estarmos juntos. Durante a ida para a escola, ao longo da vinda.
Cada vez mais parecidos, ondulando um a face do outro.
Era uma felicidade, era como dizia as minhas antigas amigas ao auge de minha paixão ensandecida: éramos inegavelmente parecidos. As recordações de suas palavras sobre nossos pontos em comum eram um feliz e abobalhado sorriso em minha face. Embora àquela altura ele já não fosse mais que um amigo. Meu coração já houvera se entregado a outro, e novamente sido recusado, talvez fosse aquela a minha sina, ser rejeitada, amar e não ser amada, aquela paixão repentina que derrama lágrimas, mas passa tão rápido como uma tempestade de verão.
Era uma felicidade, era como dizia as minhas antigas amigas ao auge de minha paixão ensandecida: éramos inegavelmente parecidos. As recordações de suas palavras sobre nossos pontos em comum eram um feliz e abobalhado sorriso em minha face. Embora àquela altura ele já não fosse mais que um amigo. Meu coração já houvera se entregado a outro, e novamente sido recusado, talvez fosse aquela a minha sina, ser rejeitada, amar e não ser amada, aquela paixão repentina que derrama lágrimas, mas passa tão rápido como uma tempestade de verão.
E
não sentir mais nada por ele, fez-me retrair, e ele cada vez mais se achegar,
cada vez mais próximo, cada vez mais claro, cada vez mais meu. E eu já não o
queria, não mais que um confidente. E ainda me enchia de orgulho o peito alto
para dizer que eu era sua melhor amiga, a única garota que conseguia lidar com
ele. Via as surpresas estampadas a cara de todos que nos conheciam, ele me amava,
mesmo que não romanticamente, mas me amava, me amava daquele jeito bruto,
daquela forma que gostava e no fundo de minha alma ainda havia uma atração em
polvorosa por ele. Vibrando, ardente e incontrolável, mas eu poderia
esconde-la.
Eu
não o amava, não daquela forma, mas havia um desejo insano, embora estivesse
completamente dedicada a outro. Algo não permitia que ele saísse por inteiro de
meu corpo, de meu espírito, de meu coração. E em seus olhos amendoados eu
conseguia ver o futuro, de uma forma ainda mais louca e doentia. Mesmo que
instável eu tinha certeza de que estaríamos juntos por muito tempo. Ouvira isso
até de minha irmã, psicóloga. Pois éramos iguais, almas idênticas, que agora
reencontravam-se.
Havia
boatos de que eu o amara antes, há muito tempo. Havíamos estuda juntos antes,
em nossa antiga infância, no maternal. Talvez ele tenha sido o primeiro naquela
minha vida amorosa inconstante, de apaixonar-me e desapaixonar-me a cada minuto. E após tantos anos, após minha saída
da escola e uma consequente separação, após amores e desilusões de
uma criança que amadurecera antes do tempo, eu estava de volta, em uma nova
escola, a mesma que estudara no maternal, mas desta vez, crescida, em quase
final do ensino fundamental. Logo descobri que não era muito querido- pelas
meninas da turma-, por sua natureza rude e sua falta de sensibilidade. E sua
forma de agir, pensar e falar as irritava, por vezes tirando do sério até mesmo
os professores, mas de alguma maneira eu não conseguia sentir raiva dele, mesmo
que suas brincadeiras de mal gosto me envolvessem, pela primeira vez eu não
desprezara alguém por aqueles atos.
Coincidentemente virara melhor amiga de sua
prima, conhecera toda sua família. Demoraram um pouco mais de dois anos para me
encontrar completamente apaixonada por ele, para descobrir nele tudo o que
queria em alguém. Toda a comicidade e insensibilidade que cabiam a mim.
Pensávamos da mesma forma, e as vezes ao outro lado da sala ele dizia algo que
incrivelmente era o mesmo que eu pensava naquele momento. Tínhamos uma louca
telepatia, ou então não mais que uma coincidência que uma tola apaixonada
acreditava ser algo paranormal. Eu não tentei, mas ele sabia do que sentia, e
rejeitou. No ano seguinte acabamos, sem querer, no mesmo curso preparatório
para as árduas provas que vinham pela frente. Foi a insanidade de meu amor por
ele que me feriu quando eu o vi apaixonado por outra garota ali. E minhas
tentativas de proximidade fracassaram.
Quando
acabou, eu achei que ele também houvesse acabado. Não tínhamos nenhum contato e
certamente não nos veríamos outra vez. Milhares de escolas, tantas, tantas,
tantas possibilidades e ele estava lá, no mesmo turno, na mesma escola e tudo
parecia começar novamente, mas não fora daquela forma.
Todos
os acontecimentos anteriores soavam loucos dali. Juntamente ao fato dele ser
tão exatamente igual ao meu pai, as falas, brincadeiras, desejos, vícios e
demais. Era como se papai tivesse outro filho, não fisicamente parecido com
ele, mas com todo o seu jeito, humor, e características impressas em uma versão
mais jovem. Era insano a cada palavra que ambos diziam. Papai que por sua vez
acabara esbarrando mais tarde com um antigo amigo, que não via há tantos anos,
ambos pertencentes ao mesmo grupos na juventude, e loucamente era justamente o
pai dele, do meu antigo amor e atual melhor amigo.
E
lá acabamos nós; dedicando-nos inteiramente um ao outro, amando nossas
igualdades, nos descobrindo. Viera, a saber, que seus pais já me apelidavam de
nora e sua família tinha certeza que escondíamos um namoro. Ele só falava de
mim, vivia de mim, sempre eu, sempre eu. Mais uma vez cheia de orgulho. Meu pai
já garantia: “Ele está afim de você.” Eu tinha certeza que não, talvez marcas
vorazes dos últimos anos. Mas sentimentos não eram importantes enquanto
estávamos cada vez mais conectados."
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