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Por enquanto




"Abaixo do deslumbre de um sorriso relaxado ostentando na face, o observei seguramente, os olhos rendendo-se a fixação em sua figura. O vento novamente soprou, e seus olhos por mais uma vez esqueceram do vidro frontal do carro que finalizava seu trabalho, deixando que se concentrassem um pouco mais em mim. Abandonou o pano branco sobre o capô, aproximando-se em um passo seguro e leve, um sorriso travesso fazendo-lhe companhia. No espaço que restava entre o círculo frondoso de arbustos naturais, alcançou minhas pernas esticadas pelo parapeito da varanda. Aos meus olhos ingênuos de uma tola adolescente apaixonada, ele era lindo, em cada traço que compunha seu corpo, abraçava seus quadris, erguia seus braços e bíceps, desenhava seu peitoral até os ossos talhados em sua face, de expressão branda na maior parte das vezes.
De alguma insana forma eu idolatrava aquela sua forma pacífica e ansiosa de amar como quem ama pela última vez, como quem fere sem querer, como quem mergulha em noite cálida e abraça o sol da manhã, fazendo deste seu último e único amigo. Era uma máscara tanta calma, controlava com tamanha eficácia aquele desespero de estar apaixonado, de uma forma tão experiente que me fazia sentir o mais ignorante ser diante seu controle. De fato eu não mais me importava, o deixara fazer o que bem entendesse de mim, menos um fardo em sua vida. Eu poderia ser permissiva a qualquer capricho dele se fosse para receber o tanto que lhe dava. Tirava tanto de mim, e confesso, estava satisfeita com o que recebia em troca. Mas era demais a algum ponto de meu pensamento, era irritante, a forma como me amava tão impertinentemente que parecia tão desesperado quanto eu, ele me amava tanto quanto eu o amava. Droga! Queria ser eu a que mais amava, queria ser eu a diferente, mesmo que me machucasse no final, pelo menos eu saberia que continuaria sendo a peça sobressalente no meio do mundo

No final das contas, quem mais amava não importava, eu o odiava, o odiava tão fervorosamente pelo simplório fato de ter despertado tão facilmente aquele sentimento desesperado em mim.  

Com um sorriso lá estava ele, mais uma vez, penetrando meus pensamentos da mesma forma que o sol da manhã se estreita na janela de meu quarto durante o verão. Adorava o fervor de meu sangue quando suas mãos tocavam minha pele. Seus olhos romperam qualquer devaneio, e então, não havia mais nada em uma mente que não fosse sua imagem refletindo-se por cada parede. Parecia ainda mais bonito olhado de perto, parcialmente escondido pela camiseta preta e a calça de moletom cinza. Dei por falta dos movimentos de sua boca, não vira o momento em que se desfizera de seu chiclete, consequentemente não sabia a quanto tempo aguardava por um beijo. Ri de meu pensamento. Embora provavelmente não tenha entendido o motivo, ignorou, afagou minha face com uma única mão, esticando-se até meu rosto. Curvei-me em sua direção, tentando tornar aquilo mais fácil. Em uma questão de segundos eu não era mais capaz do raciocínio. Seu perfume amadeirado rompeu o aroma do lírio e então senti-me no conforto de minha real casa, de meu verdadeiro mundo. Sua respiração quente tocou minha face, enquanto era fácil ouvir a saliva limpando sua garganta. Seus lábios tocaram os meus em uma explosão de ternura, esbanjando afeição. Finalmente eu me sentira completa, finalmente entendera que não tinha mais necessidade de pensamento algum."

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